Química – A greve dos caminhoneiros paralisou o transporte de cargas no Brasil nas duas últimas semanas de maio, mas seus efeitos devem se prolongar por alguns meses, até o perfeito reestabelecimento das cadeias logísticas. Pela primeira vez, nem as cargas perecíveis, nem as perigosas, como alguns produtos químicos, foram poupadas e tiveram suas viagens interrompidas, ou com violência, ou pela falta de combustível.
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Com a lerdeza típica de quem já perdeu a autoridade necessária para o exercício do poder, o governo federal demorou a agir. E quando o fez, obrou atabalhoadamente. Concedeu aos “grevistas” (a participação de empresas de transporte e de agitadores políticos ficou patente) a redução no preço do óleo diesel (a ser custeada pelo bolso dos contribuintes), redução de tarifas de pedágio e a adoção de uma tabela de preços mínimos para fretes rodoviários realizados por autônomos para encerrar a paralisação. De todas as concessões, a tabela de fretes é a mais exótica: inoportuna, custosa, inaplicável e ultrapassada, rescende aos anos 1980, reavivando na memória dos não tão jovens as lambanças dos planos econômicos ditos heterodoxos que tanto mal fizeram ao país. Os resultados de tal trambolho normativo – uma invasão na esfera da liberdade de iniciativa e de negociação privada – são imprevisíveis. Caso se revele a tabela, como aparenta, inaplicável e impossível de fiscalizar, pode haver nova revolta, dessa vez mais forte. Ou pior, caso venha ser efetivamente seguida, por carregar doses mais altas de inflação. “Essa tabela de fretes mínimos da ANTT é totalmente fora da realidade do mercado”, criticou André Castro, presidente da Morais de Castro, cujo grupo econômico também controla a Transportadora Pirajá. “No nosso caso, que contratamos alguns fretes com autônomos para complementar a capacidade operacional, será mais vantajoso investir no aumento da frota própria a usar o serviço de terceiros.” Castro avalia que a tabela da ANTT acarreta um amento imediato de custo de transporte rodoviário da ordem de 40% a 60%. “Caso venha a ser aplicada, ela mudará radicalmente o mercado, elevando os preços dos produtos químicos – algumas commodities são baratas, o custo do frete equivale ao do material transportado, esses itens ficarão inviáveis”, afirma. No primeiro momento, a Morais de Castro está negociando com os clientes essas questões e usando ao máximo seus caminhões para entregas. “Estamos informando preço FOB na nossa base, o frete precisa ser discutido caso a caso; quando o cliente tem frota própria, ele mesmo se encarrega do transporte”, afirmou. Por enquanto, saem em vantagem os distribuidores mais próximos dos seus clientes, situação em que o frete pesa menos no custo total. Segundo Castro, a ANTT está multando embarcadores que não observam a tabela, impondo multa elevada. “Espero que essa tabela não permaneça, mas, se isso acontecer, acho que os autônomos terão dado um tiro no pé, porque vai haver menos fretes para eles”, disse. Erica Takeda, da Brenntag, ainda avalia o impacto da paralisação nos resultados de maio. “Tivemos duas semanas ruins, não recebemos produtos e também não embarcamos”, comentou. “Nossos fornecedores locais foram obrigados a reduzir a atividade por falta de insumos ou de meios para escoar a produção; nossos clientes também foram afetados, por não ter como entregar seus produtos.” Erica reafirmou sua confiança na retomada da economia brasileira, mas enxerga nessa greve reflexos de problemas estruturais persistentes. “Será que o Brasil está preparado para crescer? Temos rodovias, portos, ferrovias e condições para transportar essa produção? Com certeza há muita coisa a fazer”, apontou. Essas deficiências estruturais comprometem a credibilidade do país junto aos investidores globais, inibindo o avanço de projetos. Jan Krueder, da Química Anastácio, comentou que conseguiu atender 90% dos pedidos colocados na primeira semana da greve, pois seus estoques estão situados dentro da capital paulista e seus transportadores tinham combustível para operar. Na segunda semana, foi preciso contingenciar as entregas. “Meus estoques encolheram, só não atendi clientes situados fora da cidade, que exigiam passar pelos bloqueios rodoviários”, comentou. Porém, agora, ele espera a normalização das atividades portuárias para receber os produtos que ficaram parados por lá. “É frustrante saber que há tanta mercadoria parada no porto e retida nas estradas”, disse.
Fonte original do texto –
Química –
https://www.quimica.com.br/tabela-de-fretes-eleva-custos-do-comercio-e-promove-inflacao/Confira também no blog da SQ Química: Química Verde no Brasil