Abrafati: Tendências globais apontam o futuro do setor

Texto por Química – Está chegando a hora da cadeia produtiva de tintas e revestimentos se reunir na Abrafati 2019, formada pelo Congresso Internacional e pela Exposição Internacional de Fornecedores para Tintas, de 1º a 3 de outubro, no São Paulo Expo.

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Os 220 expositores, dos quais 90 de outros países – a maior participação estrangeira direta já registrada, ou seja, sem considerar a participação mediante representantes locais –, ocuparão os pavilhões 4 e 5 do centro de exposições e seus mezaninos, um aumento de 15% na área.

As conferências plenárias que iniciam os três dias do congresso, sempre às 8h30 da manhã, também salientam a importância do evento em escala global, como explica o presidente-executivo da Associação Brasileira de Tintas (Abrafati), Antonio Carlos de Oliveira. “A primeira conferência será apresentada por Thierry Vanlancker, CEO da AkzoNobel, a maior indústria de tintas do mundo, falando sobre a importância da inovação e da colaboração na criação de valor na cadeia produtiva, um ponto muito importante para o futuro de todo o setor”, comentou.

As duas plenárias seguintes, nos dias 2 e 3 de outubro, também terão grande peso, não só pelos palestrantes, mas pela atualidade dos temas selecionados. Fabiano Sant’Ana, diretor da área digital da Basf na América do Sul, falará sobre o impacto da revolução digital no setor. No último dia, Andy Doyle, presidente do Conselho Mundial de Tintas (WCC, novo nome do antigo IPPIC) e também da Associação Americana de Tintas (ACA) tratará do avanço dos assuntos relacionados à sustentabilidade das tintas.

O encontro bienal da Abrafati será também marcado neste ano por uma profunda mudança de organização. Antes totalmente organizado pela associação, a partir da próxima edição ele será operado pela Nürnberg Messe, empresa internacional de eventos, que também organiza o European Coatings Show. “Esperamos que, com isso, possamos trazer para o Brasil mais conteúdo tecnológico avançado que possa ser ajustado ao nosso mercado”, considerou Oliveira.

Telma Florêncio, diretora de eventos corporativos da Abrafati, salienta que a associação continuará proprietária tanto da exposição, quanto do congresso, mas toda a parte referente à organização será transferida para a Nürnberg Messe, mediante contrato com prazo de dez anos. “Lançamos a feira logo depois da edição anterior e praticamente todos os expositores de 2017 confirmaram sua presença em 2019, além de termos recebido novos interessados, o que nos incentivou a ampliar a área total para 22,5 mil metros quadrados”, explicou. A adesão de empresas asiáticas, principalmente da China, mas não só de lá, surpreendeu, atestando a capacidade brasileira de atrair o interesse global.

“O Brasil é uma grande oportunidade para o mercado global de tintas, temos um grande déficit habitacional e uma indústria diversificada, setores que demandam grande volume de produtos”, salientou Oliveira. Isso se verifica mesmo no momento atual, quase em recessão econômica, com anos seguidos de crescimento nacional débil.

A Abrafati também incentivará o fortalecimento dos elos da cadeia produtiva, abrindo espaço para a interação com o varejo das tintas. “As lojas são a interface entre a indústria e o consumidor, por isso os vendedores precisam ser qualificados para orientar a escolha do produto mais adequado para caso e na quantidade certa, evitando desperdícios e resíduos, é uma prática coerente com a Política Nacional de Resíduos Sólidos”, explicou.

A heterogeneidade do varejo brasileiro, tanto no tamanho das lojas, quanto na sua localização geográfica, impõe um desafio grande para a Abrafati. “É parte da nossa missão, transferir conhecimento para a cadeia, de modo a agregar valor ao produto”, disse. Ele citou o seminário promovido pela associação em Fortaleza-CE, em 2018, com varejistas locais, com excelente receptividade e resultados. “Apresentamos em setembro deste ano outro seminário, agora em Recife-PE, com os mesmos objetivos”, informou. A região conta com expressivo parque fabril de tintas e vernizes.

Em relação ao Sudeste, a região Nordeste apresenta consumidores com menor poder aquisitivo, sendo mais voltada para produtos de baixo custo. A entidade pretende enfatizar a importância de seguir as normas da ABNT para tintas, protegendo os consumidores contra produtos sem qualidade mínima. “O varejo nos apoia, as lojas querem ter mais informação nos pontos de venda”, afirmou.

Tintas imobiliárias de qualidade são analisadas e aprovadas pelo Inmetro, que permite a colocação do seu selo nas embalagens. “O Inmetro verifica se o produto segue as normas da ABNT, mas não fiscaliza se essa qualidade está sendo mantida depois pelo fabricante”, apontou Oliveira. Para isso, foi criado o Programa Setorial da Qualidade (PSQ), que realiza auditorias trimestrais, coletando amostras aleatórias nas gôndolas das lojas em qualquer lugar do Brasil, e também visita as fábricas para verificar conformidades. O PSQ não se limita aos produtos aprovados pelo Inmetro, mas também avalia outras marcas, identificando casos de concorrência perniciosa. “Esses casos são notificados ao próprio fabricante irregular e também denunciados ao Ministério Público, tendo em vista a proteção ao consumidor”, comentou. “Como resultado, já tivemos dez denúncias que se converteram em Termos de Ajustamento de Conduta, abrangendo casos de baixa qualidade e até uso de chumbo, proibido nas tintas decorativas imobiliárias”, informou. Na avaliação da Abrafati, 90% das tintas imobiliárias comercializadas no Brasil são conformes às normas da ABNT.

A Abrafati 2019 terá uma programação específica para tratar sobre aspectos ligados à qualidade das tintas e sua repercussão jurídica. “Teremos palestras específicas para os químicos formuladores e responsáveis técnicos das fábricas, apresentando as normas ABNT em vigor, o PSQ e a sua aplicação, porque esses profissionais são responsáveis perante a sociedade pelos produtos fabricados; conforme o caso, podem ser punidos até criminalmente”, salientou Oliveira.

O Conselho Regional de Química da 4ª região falará exatamente sobre a regulamentação profissional aplicável e as punições às quais estão sujeitos os químicos responsáveis. A lista de palestrantes inclui juristas e especialistas ligados à Abrafati.

Mercado fraco

A demanda por tintas acompanha o desempenho do PIB, que não anda muito animador. A mais recente previsão para o desempenho da economia nacional para 2019 é de crescimento de 0,8%, ou seja, positivo, mas não muito. “O momento é triste porque o ano começou com expectativas muito boas, com um governo novo, que já recebeu o país com tendência de recuperação, mas foram frustradas”, avaliou Oliveira.

Com a confiança baixa no futuro, os consumidores preferem adiar compras, incluindo reformas de casas, troca de carros e outros, reduzindo a demanda por bens industrializados que consomem tintas.

De modo geral, a previsão da Abrafati é de repetir em 2019 o desempenho do ano anterior. “Registramos crescimento de 0,8% nas vendas em 2018 e projetamos uma evolução de 1% para este ano”, informou. A indústria automobilística, consumidora de tintas de alto valor, obteve um pequeno crescimento neste ano, apesar da queda nas vendas de carros para a Argentina. As tintas para indústria geral, segmento de baixo volume, mas qualificado, está crescendo, puxado pela retomada de investimentos da Petrobras e pela exportação de máquinas agrícolas, em bom momento.

A linha imobiliária, que representa a maior fatia de mercado em volume de vendas, caminha lentamente. “Isso poderia ser revertido com uma penada do Presidente da República”, disse Oliveira. Ele explica que a construção civil é movida a crédito, atualmente escasso e caro. “O Minha Casa Minha Vida está parado, com pagamentos retidos às construtoras, fala-se que retornará com outro nome, mas não há nenhuma sinalização do governo nesse sentido”, lamentou, salientando que a construção civil se reflete no nível de emprego e movimenta a economia.

Uma questão importante para o setor discutir é a tradicional sazonalidade de vendas das tintas imobiliárias, cujas vendas sempre são maiores no segundo semestre de cada ano. “Operar uma parte do ano com ociosidade, pagando horas-extras na outra parte, ou carregar estoques, redunda em elevação de custos para os fabricantes, é injustificável”, disse. No Hemisfério Norte existe uma concentração de vendas no verão, a painting season, mas isso se explica pela ocorrência de invernos rigorosos que impedem a realização de pintura dos imóveis. Não é caso do Brasil.

Além disso, por razões tributárias, persiste a concentração de vendas no fim de cada mês. “Isso exige manter estoques demais em toda a cadeia, além de sobrecarregar as operações logísticas”, explicou Oliveira. Isso precisa ser discutido por todos os participantes desse mercado.

Congresso qualificado

Após exaustivo trabalho do comitê científico, foram selecionados os 90 trabalhos científicos e tecnológicos que serão apresentados durante o 16º Congresso Internacional de Tintas, dos quais a metade terá palestrantes estrangeiros, comprovando o alcance mundial dessa reunião. Além disso, dezenas de trabalhos foram aceitos para participar da sessão pôster.

“Neste ano, o foco do congresso está direcionado para soluções para a indústria de tintas que envolvem matérias-primas de origem renovável, reaproveitamento de materiais e aspectos ligados à produção que resultem em aumento de eficiência e redução de custos”, informou Elaine Poço, diretora de Desenvolvimento e Sustentabilidade da AkzoNobel Tintas Decorativas para a América Latina e integrante do comitê técnico da Abrafati. “Há inovações, também, o conteúdo ficou parecido com o que foi exposto no European Coatings Show, não estamos muito distantes dele”.

Observando o cenário global do setor, Elaine entende que o momento atual favorece avanços graduais, sem notáveis rupturas tecnológicas. A meta dos grandes players é buscar aumento de durabilidade e de desempenho das tintas. “Talvez ainda estejamos digerindo os avanços mais profundos apresentados nos anos anteriores”, avaliou.

No caso brasileiro, com o mau desempenho de vendas nos últimos dois anos, a preocupação das indústrias está na redução de custos para produzir os mesmos produtos e melhorar a competitividade. “Com isso, há uma tendência à estagnação tecnológica, que mudará com a retomada da economia, quando ela vier”, comentou.

Neste ano, ela verificou o aumento da participação de universidades e institutos de pesquisa, entidades que têm uma vocação natural para inovação, porém “com os pés no chão”. “Eles fazem pesquisas que respeitam a realidade econômica do país”, disse. Entre os trabalhos selecionados deste grupo, ela identificou a ênfase no desenvolvimento sustentável, olhando para o impacto dos compostos orgânicos voláteis (VOC) e a toxicidade dos insumos.

Os fornecedores de insumos químicos mantêm sua participação destacada, apresentando novidades com custo adequado ao mercado local, seja substituindo outros ingredientes com economia, ou agregando diferenciais, porém de forma acessível ao bolso dos consumidores.

No campo dos polímeros, Elaine identificou o aumento do número de trabalhos inscritos, com inovações voltadas para tintas de alto desempenho. Nos pigmentos, há novidades no campo dos anticorrosivos especiais. A participação de trabalhos sobre aditivos é sempre extensa, pela pluralidade de aplicações e desenvolvimentos, em especial nas tintas decorativas base água.

Elaine ressaltou a presença de vários trabalhos que tratam da regulamentação dos biocidas, advogando que o Brasil adote parâmetros mais restritivos. “A Europa avançou muito nas limitações ao uso de cloro-metil isotiazolinona, a CMIT, por exemplo; por lá, já é comum encontrar tintas sem biocidas”, disse.

Ela também ressalta que as condições de produção e de mercado aqui são diferentes. “No caso brasileiro, o desafio para os biocidas é maior porque, além do clima quente e úmido, o setor trabalha mais com slurries, que exigem maior cuidado”, explicou.

A adoção do sistema global de identificação de substâncias químicas GHS já está completa no país. “O Brasil tinha adotado uma versão antiga do sistema, mas agora está implantando a versão mais atualizada, mais próxima da usada na Europa, que é até mais branda”, comentou. Embora considere que os consumidores daqui ainda não tenham o hábito de observar as informações contidas nas embalagens, ela observa que algumas formulações de tintas foram alteradas para que o produto final tivesse rótulo limpo, ou seja, sem as mensagens mais desagradáveis de alerta.

Na comparação com o congresso europeu, Elaine verificou que lá houve maior participação de trabalhos sobre automação de processos, na linha da Indústria 4.0. “A participação de equipamentos no congresso é, em geral, pequena; precisamos dar mais espaço para desenvolvimentos em automação nas edições futuras”, apontou.

A relevância do tema para o Brasil pode ser explicada pela própria evolução do setor. Como explicou Elaine, nas décadas de 1990 e 2000, as indústrias instaladas no país, mesmo as multinacionais, buscaram obter o máximo de soluções nos processos produtivos. “Hoje, estamos no momento de pensar na renovação das estruturas da produção, é um fenômeno cíclico, não restrito à indústria, mas também chega aos seus clientes”, afirmou. Ela cita a China como exemplo: suas fábricas são mais recentes e mais eficientes porque incorporam tecnologias mais atuais.

“Na AkzoNobel, por exemplo, buscamos apoio em start-ups tecnológicas (projeto global Path to the Future), visando projetos de longo prazo e disruptivos, provocando também os nossos fornecedores de modo a repensar a produção, aplicação e economia circular, de forma integrada”, salientou.

Fonte original do texto: Portal Química

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