Texto por Química – No início de abril, foi divulgada uma informação extremamente preocupante: a indústria de transformação respondeu por apenas 11,3% da atividade econômica do País em 2018. É o nível mais baixo de participação da indústria no PIB desde que existe essa medição, ao qual chegamos depois de uma queda contínua e muito acentuada ao longo das últimas três décadas (nos anos 1980, a indústria representava cerca de 30% do PIB).
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Para piorar, os segmentos considerados mais sofisticados da indústria (eletrônica e informática; máquinas e equipamentos; química; automobilística; e farmacêutica) também encolheram nesse período, antes de conseguirem se destacar e impulsionar a capacidade de inovar e o desenvolvimento do País, como ocorreu, por exemplo, na Coreia do Sul.
Esses dados, reunidos em estudos do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e do pesquisador Paulo Cesar Morceiro, refletem o processo de desindustrialização do Brasil, que vemos como um grande problema. Em todo o mundo, o setor de serviços cresceu em importância na comparação com a indústria. Mas no Brasil a redução da relevância do segmento industrial foi mais profunda, tanto em função das sucessivas crises, quanto em função da perda de competitividade em relação aos produtos importados – que é resultado de uma série de gargalos e erros estratégicos, entre os quais o IEDI destaca a falta de mecanismos de financiamento, a infraestrutura deficiente, o sistema tributário complexo e um apoio ineficiente à ciência e tecnologia.
Nos últimos anos, enquanto a indústria perdia espaço, o agronegócio se consolidou como o grande motor da nossa economia. Mas a nossa ambição não pode se limitar a sermos exportadores de commodities, mesmo que tenhamos enormes diferenciais nessa área, com níveis de competitividade e produtividade muito elevados.
A indústria merece ser defendida e estimulada – sem proteções ou privilégios – por tudo aquilo que representa em termos de valor e desenvolvimento econômico e social para o País: empregos qualificados, incentivo à formação de cadeias produtivas mais sofisticadas, inovação e avanço tecnológico, exportações com maior valor agregado e tantos outros benefícios.
Os níveis de competitividade e produtividade alcançados pelo agronegócio devem nos inspirar, mas é preciso ir além, ficando atentos e antecipando-nos ao que existe de novo no horizonte. Temas como digitalização, realidade aumentada, automação e robótica têm de estar na agenda da indústria em geral – e, naturalmente, na de tintas também. Da mesma forma, tendências como o envelhecimento da população, a urbanização crescente, a busca de novas formas de mobilidade, o desejo do consumidor por comodidade e praticidade, a crescente desintermediação nos negócios precisam estar no nosso radar. No caso da indústria de tintas, há muitos caminhos a percorrer, a começar pela necessidade de tornar nossos produtos cada vez mais amigáveis do ponto de vista da aplicação. Há muito mais oportunidades (e desafios) em vista: produtos mais versáteis, com mais funcionalidades, mais sustentabilidade, melhor performance, mais possibilidades de customização etc.
Se não nos adaptarmos ao mundo em que vivemos hoje – que não é o mesmo em que viveremos amanhã, em virtude do ritmo intenso das transformações –, a indústria será cada vez menos relevante no Brasil. Nosso desafio é entrar com força no mundo da Indústria 4.0 e contribuir, cada vez mais, para a criação do novo mundo em que viveremos e daquele que será o habitat das futuras gerações. Vamos juntos encarar esse desafio?
Texto: Antonio Carlos de Oliveira
Fonte original do texto: Química
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